tag:blogger.com,1999:blog-25403364888502358122024-03-19T09:10:06.179-01:00Conversas de CaféAnonymoushttp://www.blogger.com/profile/10488925930318274685noreply@blogger.comBlogger9125tag:blogger.com,1999:blog-2540336488850235812.post-19952055468156809062009-02-28T00:55:00.003-01:002009-02-28T01:05:24.434-01:00Conversas de Café 08<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgO78UKllQv72tKC5tf-cwT68A2eWwsFfQu42AHvHFxUnKlGCCf1Lt-tLFRpitCDZifCaxJ5SOpmHSH598N2HDDJO6u0OmptrECRjbfd8WWtuPBT3gsI3wiPebW132tMiGsixpwlcmiuiY/s1600-h/cup1.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 360px; height: 360px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgO78UKllQv72tKC5tf-cwT68A2eWwsFfQu42AHvHFxUnKlGCCf1Lt-tLFRpitCDZifCaxJ5SOpmHSH598N2HDDJO6u0OmptrECRjbfd8WWtuPBT3gsI3wiPebW132tMiGsixpwlcmiuiY/s400/cup1.jpg" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5307663510075076594" /></a><br /><div><br /></div><span class="Apple-style-span" style="font-weight: bold;"><span class="Apple-style-span" style="font-size:x-large;">Manifesto Teatral</span></span><br /><br /><div><br /><div style="text-align: justify;">Vamos entrar no mês de Março, que em Cabo Verde tem sido desde 1999, o “Mês do Teatro”, pelo facto de no dia 27 de Março ser Dia Mundial do Teatro, e de durante todo o mês a Associação Mindelact e grupos de teatro um pouco por todo o arquipélago promoverem actividades ligadas às artes cénicas, com destaque, naturalmente, para a apresentação de peças de teatro. Por me ter sido solicitado que abordasse esta temática decidi, depois de participar em mais de 50 peças enquanto encenador, actor, cenógrafo ou dramaturgo, publicar o meu Manifesto Teatral. A forma como abordo a criação artística nesta área e a experiência adquirida ao longo de cerca de 20 anos de carreira permite-me que torne público este texto, mais do que uma manifestação de intenções, um espelho da forma como venho encarando a actividade profissional nesta área, parte vital da minha vida. <br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">1. É fundamental que haja focos, pontos de partida para a criação, sons que permanentemente nos avisam e ajudam a não cair em soluções espontâneas que são rasteiras sempre presentes, porque muitas vezes a nossa mente tende a escolher, até pela forma como vem sendo moldada pela cultura da globalização, os caminhos mais fáceis. Este é um manifesto que se baseia em alguns conceitos fundamentais, a partir dos quais procuro nortear a criação no domínio das artes cénicas: Criatividade, Coerência, Concepção, Estudo, Exigência, Experimentação, Humildade, Trabalho e Partilha. <br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">2. Nada acontece por acaso. No teatro, a arte da transparência, menos ainda. Para se conseguir um bom resultado é fundamental pesquisar, preparar, definir e fundamentalmente trabalhar. Trabalhar muito. Um espectáculo de teatro vive do momento, da sequência dos instantes, da procura da perfeição em cada segundo (que nunca é alcançada). A diferença entre um bom e um mau espectáculo de teatro está relacionada, na maior parte dos casos, com a maior ou menor atenção que damos aos pormenores. Peter Brook, o mais importante encenador do século XX, escreveu: “não há segredos”, e é verdade. O trabalho de um encenador é o mesmo do de um artesão, onde não há lugar para falsas mistificações nem para pretensos métodos mágicos. Não há teatro feito por geração espontânea. Fazer bom teatro dá muito trabalho. Exige enormes sacrifícios. Pede tempo e disponibilidade. [Trabalho]<br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">3. O maior perigo do sucesso e da aceitação do público, e isso é claro em quase todas as áreas, é a acomodação. Como se descobríssemos uma fórmula, que repetimos até à exaustão, até porque se já resultou uma vez, vai certamente resultar noutras. Nada mais errado. A acomodação leva ao desleixo, o desleixo ao facilitismo e se há algo que aprendi neste ofício é que o público não é estúpido, antes pelo contrário. Hoje, exige-se ao processo de criação uma velocidade que corresponda às exigências da modernidade e essa é a sua maior armadilha. O tempo passou a ser um luxo. A reflexão um bem de terceira necessidade. Daí a urgência de exigirmos de nós próprios cada vez mais e não nos deixarmos cair nas tentações do mercantilismo e do aplauso fácil. Tenhamos, pois, como meta primeira fazer melhor que a produção anterior. É um excelente princípio. [Exigência]<br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">4. No teatro tudo é possível porque parte de uma matriz fantástica (e de certa forma angustiante) para o processo de criação: o espaço vazio. Para preencher este espaço vazio devemos utilizar a criatividade de forma a que possamos conceber uma peça onde seja possível estar sempre um passo à frente de quem o vê. Quero com isto dizer que a previsibilidade é o veneno mortal da arte cénica. Porque provoca o desinteresse, o tédio e com este o maior de todos os sintomas, os ruídos oriundos da plateia, paladinos do aborrecimento: tosse, papeis, telemóveis a tocar. E esta abordagem de que tudo é possível é também ela uma armadilha, porque denota uma possibilidade de anarquia absoluta. Não caiamos nisso, porque como se disse no ponto anterior, o rigor e a disciplina têm que estar sempre presentes e com estes a capacidade de surpreender, sempre e a qualquer momento. Que nome se dá a essa competência? Criatividade, simplesmente. [Criatividade]<br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">5. Entre a necessidade de reflexão, de trabalho, de disciplina e a liberdade inerente ao “tudo é possível”, ao espaço vazio e ao acto de criação em si, há um campo vasto de possibilidades a experimentar. “Por isso não há receitas prontas. Permanecer muito tempo na profundidade pode tornar-se aborrecido. Permanecer muito tempo no superficial logo se torna banal. Permanecer muito tempo nas alturas pode ser intolerável. Temos que estar em movimento o tempo todo.” Este parágrafo da autoria de Brook define bem aquela que é uma das características mais genuínas da arte teatral: a experimentação. Agora que já passamos da época em que se chamava experimental a tudo e mais alguma coisa sem a mínima noção do que esse termo realmente significava, talvez lhe possamos dar o devido valor. Tentar ser melhor passa também por descobrir novos caminhos, novas estéticas, novas temáticas, novas abordagens, novas técnicas. [Experimentação]<br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">6. Para que o teatro viva e conserve a sua frescura, deve constantemente arriscar-se, confrontar-se, aventurar-se em novos mundos e é por isso que experimentar é nesta arte tão vital como respirar. Diria mesmo que a experimentação é o reflexo respiratório da arte cénica, o que faz com que esta se renova permanentemente e combata aqueles que são os seus grandes inimigos: o tédio, o aborrecimento, a repetição de fórmulas gastas, a manutenção de um estado senil incompatível com o ser e fazer arte. Mas experimentar não é lançar a concepção criadora para um abismo sem retorno. Pressupõe um domínio de determinadas técnicas, um estudo prévio, uma preocupação em conhecer os antecedentes das linguagens que se pretendem explorar. Experimentar implica também conhecer, ir mais além, procurar profundidade numa época em que a ligeireza domina quase todos os parâmetros da nossa vida social e cultural contemporânea. [Estudo]<br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">7. O teatro é um espelho multifacetado das diferentes realidades que o rodeiam, mas não é certamente espelho de si próprio. Uma peça de teatro é concebida para que alguém a veja. Sendo assim, vai ser sujeita a um escrutínio que não nos deve fazer reféns mas também não nos pode deixar completamente indiferentes senão algo deixa de fazer sentido. E sabendo que o público vai para o teatro para se emocionar, para fazer parte de uma aventura comum, isso obriga a uma contínua introspecção e escuta atenta da parte de quem faz. Auscultar os outros, talvez seja este o acto que melhor define a humildade artística, considerada aqui como uma espécie de grilo falante que nos avisa, em momentos precisos, que se calhar não somos assim tão geniais e que não nos devemos levar tão a sério. O facto de o teatro ser a arte da partilha por excelência faz com que quem nele esteja envolvido se obrigue a questionar. Não tenhamos, pois, a pretensão de que aquilo que fazemos é automaticamente interessante, nem reclamar que os outros é que são ignorantes quando não alcançamos o pretendido. É importante saber escutar os silêncios, as opiniões, as criticas, os elogios, os abandonos, os abraços. Assimilar e seguir em frente. [Humildade]<br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">8. No teatro cabe (quase) tudo. A arte de representar, a arquitectura, as artes plásticas, a música, a moda, a óptica, o som, a luz, os cheiros. Daí também o perigo de se tornar uma amalgama sem sentido. Parece-me fundamental que num campo tão vasto como este haja a preocupação de saber combinar todos estes elementos de forma coerente. Saber jogar com os materiais, com as cores, com os tecidos, com os sons, com os registos dos actores e fazer do todo uma obra de arte que tenha, no mínimo, qualidade estética e clareza conceptual. Por isso o teatro é a arte dos detalhes. Isso obriga a uma atenção redobrada sobre todos os aspectos envolvidos e a uma capacidade de encarar a montagem de uma peça de teatro como um processo colectivo, com muitos criadores envolvidos. Para que funcione, é importante que todos caminhem num sentido definido, claro, concreto, resultado de um profundo debate e questionamento, é certo, mas cujo resultado final nos faça estar perante um quadro harmónico, pictórico, energético e humano coerente consigo próprio. [Coerência]<br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">9. Finalmente dizer que se a partilha é o que faz do teatro aquilo que ele é, torna-se claro que “a base do ofício teatral consiste em estabelecer com o público, a partir de elementos muito concretos, uma relação que funcione”, como escreveu Brook. Isto não implica que se tenha que fazer concepções, como tantas vezes se quer fazer querer. Mas tem que haver respeito. O público reconhece, antes de tudo, a qualidade. E premeia-a, sem contemplações. Claro que há plateias mais difíceis e outras mais dóceis, mas nem as primeiras tem que ser encaradas como inimigas nem as segundas como condescendentes. O ideal é conseguir uma plateia que goste realmente de teatro. Essa é uma bênção, porque resulta numa troca energética entre um grupo de pessoas que vive uma convenção – a convenção teatral - num mesmo comprimento de onda. Por isso o confronto da obra cénica com o seu receptor final é o culminar de um longo, doloroso, paciente e complexo processo criativo, cujo resultado é sempre imprevisível mas quase sempre justo e reflexo do investimento pessoal e colectivo nele depositado. [Partilha] <br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">10. Quanto ao resto, é como o próprio teatro, nasce e morre. Tudo é efémero. É importante que não nos levemos demasiado a sério e que este manifesto possa ser lido como um roteiro de uma viagem, num mundo que permite múltiplos itinerários a tantos outros destinos que não tem que adoptar nada do que aqui é defendido. É provável que eu próprio, daqui a alguns anos, leia este texto e que, como quem lê uma carta de amor que se escreveu na adolescência, sorria e, envergonhado, o arrume sem contemplações no baú das memórias mais longínquas. <br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div></div>Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/10488925930318274685noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2540336488850235812.post-46407022324024931582009-02-26T15:31:00.002-01:002009-02-26T15:34:22.497-01:00Conversas de Café 07<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjXzH4JILAcPN5iP4n6ErG5f4Ww1Vo8IzPQ8JzkjFeIWFtLxJpf77lKCxglHmxwxYsVmzznK9TGkFZEQLZ8ZnFueP7zWb4NO8Mnp8_6zOoSqGq189vmBjiYJSjvu3Dr2yAUZzhkViLDPqA/s1600-h/CAFE.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 400px; height: 273px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjXzH4JILAcPN5iP4n6ErG5f4Ww1Vo8IzPQ8JzkjFeIWFtLxJpf77lKCxglHmxwxYsVmzznK9TGkFZEQLZ8ZnFueP7zWb4NO8Mnp8_6zOoSqGq189vmBjiYJSjvu3Dr2yAUZzhkViLDPqA/s400/CAFE.jpg" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5307145290832262178" /></a><br /><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style=" font-weight: bold; font-size:24px;">Bloguices</span><br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Este mesmo semanário lançou na sua última edição a pergunta, “porquê ter um blogue?” E nada como ocupar este espaço para reflectir um pouco sobre a minha experiência pessoal enquanto editor de um blogue, neste caso, o Café Margoso, nascido a 27 de Dezembro de 2007.<br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Por definição, um blogue (ou blog, ou weblog) é uma página na internet, cuja estrutura permite a actualização rápida a partir de acréscimos de tamanho variável, chamados artigos (ou posts). Estes encontram-se geralmente organizados de forma cronológica inversa e podem ser escritos por uma ou várias pessoas. A ilustração dos artigos também é muito simples a partir de procedimentos de fácil execução. Um blogue é uma página pessoal – ou colectiva, no caso do blogue ter vários autores – cujos conteúdos variam na mesma proporção ao aumento exponencial destas páginas no mundo virtual. Para se ter uma ideia, em 2007, todos os dias eram criados 120 mil novos blogues, três a cada dois segundos! Em Março de 2005, eram criados 25 mil blogues por dia, e este diferencial permite-nos extrapolar que no dia de hoje, no início de 2009, estarão a ser criados cerca de 200 mil novos blogues em todo o mundo! Quando terminar de ler este artigo é muito provável que novos 1.500 blogues tenham entrado na grande rede global. Nos Estados Unidos da América, por exemplo, os blogues já são mais lidos do que os jornais tradicionais e por eles passou muito da estratégia eleitoral que levou Barack Obama até à sala oval da Casa Branca.<br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O que começou por ser um pequeno movimento tomou-se hoje num fenómeno de proporções extraordinárias. E sobre a importância dos blogues à escala mundial, nada como recorrer ao italiano Giuseppe Granieri, um dos maiores especialistas de comunicação e cultura digital, autor de um aplaudido livro denominado Geração Blogue, onde faz uma exaustiva análise deste fenómeno. Diz ele que graças aos blogues, e aqui está a grande novidade, a rede modificou-se: a sua difusão finalmente ligou milhões de pessoas, convertendo-a de rede de conteúdos em infra-estrutura de discussão. “Nesta perspectiva, os blogues são o anel que faltava entre uma aspiração planeada há anos e a sua realização prática. “<br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Sendo certo de que há momentos em que dou aos blogues cabo-verdianos uma importância que (ainda) não tem, outros há em que me parece que estes têm mais importância do que se quer fazer crer. “Com os blogues”, escreve Granieri, “às enormes potencialidades da relação já implícita na rede vieram juntar-se as facilidades de acesso, a capacidade de memória e as possibilidades de pesquisa (...) Mas diferentemente dos outros instrumentos, os blogues reagrupam os conteúdos por pessoa, fornecendo aos indivíduos um instrumento de identificação fortíssimo. Isto facilita a relação quer entre sujeitos que já se conhecem, quer com sujeitos que iniciam um novo contacto a partir do zero.” A minha experiência pessoal confirma isto mesmo: desde que iniciei o Café Margoso, conheci pessoas novas, muitas outras passaram-me a conhecer um pouco melhor, até porque, como diz Paolo Valdemarin, “é muito mais fácil conhecer a fundo um blogueiro que se lê todos os dias do que um colega de trabalho.” Estou ainda convencido de que a existência de uma rede, mesmo que pequena e em estado embrionário como a dos blogues cabo-verdianos – todos distintos, com diferentes objectivos, natureza, alcance e ambição – traçou pontes entre o Norte e o Sul do arquipélago que são sempre de aplaudir num pais que facilmente tem a tendência quase suicida de se deixar cair num bairrismo retrógrada, com laivos de preconceito à mistura. Aliás, não concordo nada com essa visão existente em alguns sectores que insistem em classificar esta pequena e ainda incipiente rede blogueira crioula como um ciclo fechado e mutualista, de natureza quase maçónica, carregado de umbigos, palmadas nas costas e masturbações individuais e colectivas. Já escrevi sobre isso, e nunca é demais repeti-lo: quem quer ter um blogue pode tê-lo, à distancia de meia dúzia de cliques. E o grande desafio não é ter um blogue, é mantê-lo. Como se pode classificar os blogues um meio fechado se nascem cerca de 200 mil novos blogues novos em todo o mundo a cada dia que passa? Além de que, ter um blogue não é a única forma de participar nesta Grande Conversação. Uma das características mais interessantes dos blogues, assim como dos Fóruns, é permitir um diálogo permanente entre o emissor e os receptores dos textos, e entre os receptores entre si. Alguns dos mais acesos e interessantes debates sobre assuntos da actualidade crioula, viveram-se no universo dos blogues, dos seus artigos e comentários. <br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Ainda Granieri: “As relações que se instauram são sólidas, visto que a profundidade da relação que se alcança através daquilo que se escreve e lê, é nitidamente superior à que se pode obter em muitos casos de relações pessoais fora da rede. De facto, são diferentes os tempos e os modos de relacionamento. Ao manter um blogue empenhamo-nos por completo e exprimimo-nos com a ponderação certa, que a escrita permite e que a expressão oral por vezes nega. No blogue aprofundamos, limamos, desenvolvemos o nosso pensamento de um modo que, sem este traçado cronológico, não seria possível.” Ou seja, as pessoas passam a conhecer as nossas ideias, as nossas opiniões e as nossas preferências. E interagem connosco. No meu caso pessoal, devo dizer que o facto de ter um blogue me obriga a uma reflexão diária dos acontecimentos da actualidade, a uma permanente procura de fontes de conhecimento, a uma busca das minhas próprias memórias, à leitura diária de poesia, a uma revisão de conceitos, a uma conceptualização de temáticas necessariamente mais ponderada. <br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Cada um tem o seu blogue por alguma motivação. Essa motivação pode ser pessoal, certamente. Mas acredito que a maioria, pelo menos no caso da blogosfera cabo-verdiana, o faz porque pensa que dessa forma pode contribuir e que esse é um exercício de cidadania como qualquer outro. Como escreveu o blogueiro português Marcos Santos, um blogger generoso é “alguém que gasta horas não a coçar os seus poéticos tomates, mas a valorizar o espírito de partilha, a vontade de transmitir e receber conhecimento, dar e receber ideias, alguém que escreve pela música, pelo cinema, pela arte, pela ciência, por aquilo em que acredita, enfim, pelas pessoas. Muitos não têm um décimo do reconhecimento que merecem, mas são eles os responsáveis pelos verdadeiros blogues de topo, as referencias da blogosfera. Podem ser culturais, mas não são elitistas, políticos sem ser politiqueiros, polémicos mas sem usar a maledicência ou a calúnia.” Esta citação, referente ao universo dos blogues portugueses, um dos países da Europa onde este fenómeno tem maior expressão, não é de todo desprovido de paralelos com a realidade cabo-verdiana. Se bem que, como escreveu Jorge Tolentino no seu blogue Passageiro em Trânsito, a blogosfera crioula ainda agorinha arrancou, enquanto fenómeno com expressão mediática e que muito caminho há ainda a percorrer. Não quero com isto dizer que apenas agora começou a haver blogues em Cabo Verde nem diminuir quem por aqui anda há muito mais tempo do que eu. Quem não se lembra, com alguma saudade, do Lantuna, da Matilde Dias? Ou o que dizer da também jornalista Margarida Fontes que mantém o seu espaço há mais de quatro anos? Agora parece-me claro que o fenómeno blogueiro, enquanto espaço de comunicação, debate, cidadania, intervenção critica construtiva, amplo e alargado a um maior número possível de pessoas, está apenas a arrancar em Cabo Verde.<br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">E volto à questão de partida. Porquê um blogue? Bem, para falar a verdade quando comecei não fazia nenhuma ideia do que pretendia nem qual o rumo tomar. Procurei que o Café Margoso fosse um “lugar” onde recebo amigos, conhecidos e desconhecidos, como nos cafés de antigamente, onda as tertúlias e os debates acompanhavam sempre o café ou o chá, então e quase, meros pretextos. E procurei esse fosse um lugar ou um pretexto para estar, falar, opinar, rir, emocionar, ver, escolher, perguntar, declarar, desaforar, convidar, ouvir e ver, escolher, criticar, perguntar, para construir pontes, enfim, para partilhar. Durante este período aprendi imenso, ganhei novos amigos, aproximei-me do Sul e terei ganho algumas inimizades. Certamente errei algumas vezes, exagerei outras, fui imprudente e até injusto. Mas procurei sempre não calar, não censurar, não desqualificar, não desvalorizar, não temer e não cegar nada nem ninguém. <br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Há quem faça blogues por gostar de se ver ao espelho? Por gosto? Por diversão? Porque lhes apetece? Naturalmente. Problema de quem os faz e de quem os visita. O universo blogueiro é totalmente livre, para o bem e para o mal, e embora tenha sempre presente as palavras de um amigo que me dizia há dias que “isto dos blogues é uma pura perda de tempo”, não deixo de me lembrar também da frase de Machado de Assis que diz: “palavra puxa palavra, uma ideia traz outra, e assim se faz um livro, um governo, ou uma revolução.”<br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div>Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/10488925930318274685noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2540336488850235812.post-7126323613614293592009-02-12T13:57:00.002-01:002009-02-12T14:00:07.884-01:00Conversas de Café 06<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjf5mfUhj_HBc_thSFyQ_XfiXfDlMbphZeo7luCqfVziIazbq3MJgqVNnVugASMcmWg5Wpxwcl__WD_iQ0CseWyaniKCDAR03yQNIAWXkIsiPBmZoW_tTaZ4gKlL4uNh395s27-Xuq36bc/s1600-h/Caf%C3%A9+Eros.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 400px; height: 399px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjf5mfUhj_HBc_thSFyQ_XfiXfDlMbphZeo7luCqfVziIazbq3MJgqVNnVugASMcmWg5Wpxwcl__WD_iQ0CseWyaniKCDAR03yQNIAWXkIsiPBmZoW_tTaZ4gKlL4uNh395s27-Xuq36bc/s400/Caf%C3%A9+Eros.jpg" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5301925658672843618" /></a><br /><br /><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-weight: bold;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: x-large;">Outside & Inside</span></span><br /><br /><span class="Apple-style-span" style="font-weight: bold;">Outside</span><br /><br />A série televisiva 24 horas, que já vai na sua sétima temporada, teve um sucesso estrondoso em todo o mundo e, no que me diz respeito, marcou-me de uma forma positiva e negativa em dois aspectos. Pela positiva, por ter quase que "adivinhado" a possibilidade de ter um afro-americano na Casa Branca, quando na primeira temporada surge com o senador e principal candidato presidencial David Palmer, que na temporada seguinte não só é Presidente, como é um excelente Presidente. A ligação deste personagem com a actualidade é inevitável. Mas a série também marcou negativamente porque de alguma forma funcionou como um instrumento da banalização da tortura, já que o seu personagem principal, o agente Jack Bauer, nunca hesitou em utilizar métodos violentos e coercivos nos seus interrogatórios, secretos e ilegais, por estarem em causa assuntos de "máxima segurança nacional".<br /><br />Toda a estrutura das várias temporadas, com a psicose do terrorismo e a forma de o combater a dominar os acontecimentos, só teria sido possível com o ambiente, as chantagens, psicoses e legislação criados durante os mandatos de George W. Bush nos Estados Unidos. Este bem que pode merecer o aplauso da página 7 do jornal A Semana, mas Bush e a sua administração, com o sinistro vice Dick Cheney à cabeça, foi o principal responsável por muitas das violações dos direitos humanos ocorridas durante os últimos anos, inclusive dentro do seu próprio território nacional. Aliás, a principal vantagem destes oito anos, se é que se pode escrever isto assim de animo leve, foi o facto deste reinado de Bush ter sido tão mau, que fez com que um mais que improvável candidato não só vencesse as eleições, como aparecesse aos olhos do mundo como um novo Messias. Miguel Sousa Tavares, na sua última crónica no jornal português Expresso, diz isso mesmo, e com todas as letras:<br /><br />“Mas foi preciso que o governo de Bush fosse de tal maneira calamitoso aos olhos de todos, para que a grande nação americana, feitas de brancos, de negros, de latinos, de asiáticos, percebesse que o que agora estava em causa era a própria sobrevivência dos Estados Unidos. E, por isso, a mensagem e a imagem de radical mudança de paradigma protagonizada por Obama foi crescendo aos poucos, como uma bola de neve, até ele próprio adquirir quase uma dimensão de Messias, para o que, obviamente, não pode estar preparado. Como se tantos e tantos anos de malfeitorias pudessem ser redimidos e reparados por um simples acto de contrição colectivo! Não podem: o que Bush destruiu paulatinamente demorará anos e anos a reconstruir.”<br /><br />Ora, Barack Obama ainda nem teve tempo para aquecer a cadeira da sala oval da Casa Branca mas parece querer dar a volta a esta realidade o mais depressa possível. Senão vejamos o que o novo presidente conseguiu, durante o dia que passou:<br /><br />1. Ordenou o encerramento, o mais depressa possível, dos centros de detenção que a CIA mantém actualmente no estrangeiro para os suspeitos de terrorismo;<br />2. Decretou igualmente que os Estados Unidos da América ajam em conformidade com as convenções de Genebra no modo de actuação para com os prisioneiros de guerra. Essas convenções, e a sua aplicação aos suspeitos de terrorismo, eram contestadas pela Administração Bush. Esta medida é claramente um afastamento das técnicas de interrogatório empregadas até ao momento pela CIA, denunciadas em variadíssimas ocasiões como actos de tortura;<br />3. Decretou o encerramento do centro de detenção de Guantánamo, Cuba, dentro de um ano, marcando definitivamente uma ruptura com a anterior política de luta antiterrorista de Bush. Obama assinou o decreto que põe fim a Guantánamo na Sala Oval, rodeado de militares na reserva, dando maior simbolismo ao acto.</div><div style="text-align: justify;"><br />Está-se mesmo a ver que os homens que inventam os argumentos para séries televisivas como o 24 horas, tem que mudar a direcção das suas bússolas ideológicas. Como foi escrito, com uma certa piada, num blogue português, "a Sala Oval tem agora um presidente que faz questão em cumprir promessas. O presidente Obama arrisca-se a criar um grave precedente para todos os políticos, e não só americanos." Estranho não é? Em menos de 24 horas e já anda por aí a cumprir promessas. Apenas um bom começo ou vem mesmo aí uma nova era?<br /><br /><span class="Apple-style-span" style="font-weight: bold;">Inside</span><br /><br />Nestes dias que se fala tanto de crise não seria mal falarmos um pouco de outras crises que teimam em não nos querer largar, de tal forma estão enraizadas na nossa forma de ser. Uma questão de mentalidades, dirão uns. Só com uma revolução geracional poderemos ultrapassar isto, dirão outros. Pois muito bem, assim sem muitas papas na língua, vivemos neste momento, de forma evidente, duas outras crises: a crise da aceitação da critica e a crise da falta de humor. Vamos falar hoje apenas da questão da critica, mas sem antes deixar aqui uma frase de Mário Lúcio Sousa, a propósito da segunda referida: ““Depois da fome, duas desgraças podem arrasar uma Nação (falo de Nação e não de Estado, país ou Pátria): A morte do Teatro e a agonia do Humor. A música e as outras formas de expressão até que podem ser bravos exercícios de solidão. Inclusive o amor está concebido para ser executado a mano solo - por isso Deus a cada um deu o seu inseparável sexo - e é o monólogo a mais antiga das sabedorias. Mas, o teatro e o humor são vícios que não se praticam a sós. Ninguém ri dos seus infortúnios. Prova desse milagre é que cócegas em sovaco próprio não arrancam gargalhadas. “</div><div style="text-align: justify;"><br />Mas o que não tem nenhuma piada mesmo é a falta de equilíbrio com que recebemos uma critica, seja ela boa ou má. É uma mentalidade que faz com que seja complicado, e haja mesmo que se sinta condicionado por causa disso, elogiar ou criticar seja o que for, seja em que circunstância for, sabendo que ao fazê-lo se está sujeito a ser de imediato tachado publicamente de arrogante ou lambe botas. Assim, e de forma resumida, quem critica negativamente, é porque está cheio de inveja ou faz dessa critica um instrumento de vingança pessoal; se elogia, é porque é um amigalhaço, primo, cunhado ou alguém a quem deve um favor pago desta forma. Isto também tem uma outra vertente de análise muito local, e que urge alterar: elogiar alguém, de determinada área profissional, não implica desconsiderar todos aqueles que trabalham ou exercem a sua profissão na mesma área. Elogiar o trabalho de um artista plástico, por exemplo, não implica que se esteja a afirmar que todos os outros não tem valor. Mas é um pouco isso que acontece. “Então aquele tipo está a elogiar a Luísa Queirós, então e eu?”. “Não entendo o que tem ele contra mim, para dizer tão bem da pintura do Tchalé Figueira!”. Acho que nem é preciso estar a explicar o quanto tudo isto acaba por cair no ridículo, mas a verdade é que não temos a mínima capacidade para encaixar uma critica, seja para nós, seja para os outros. Quando é para nós, e se a critica é positiva, ficamos logo com o rei na barriga, o ego multiplica-se à máxima potência, o nosso umbigo passa a ser, por inerência, o centro do Universo. Os que assistem de fora bem se podem roer de inveja, bem podem falar que fulano ou sicrano foi colega de escola, pouco importa. Se a critica é negativa, a reacção dá-se por três fases: numa primeira aceitamo-la, como quem leva um tiro e ainda não sente a dor real do ferimento. Essa é a segunda fase: começamos a remoer o que foi dito, e caramba!, dói como tudo, e começamos a pensar, olha que isto não é bem assim, fomos mal entendidos; até que alcançamos a terceira e última fase, com o aparecimento vulcânico de uma fúria latente, resumida na simples frase “o que é que este energúmeno pensa que é para estar a criticar o meu trabalho ou a minha pessoa?!”</div><div style="text-align: justify;"><br />Devo sublinhar que isto não é apenas, certamente, característica nossa. Talvez faça parte da natureza humana ser-se assim. Mas que o cabo-verdiano encaixa mal, lá isso encaixa. E aqui quero sublinhar que no meu caso, que sou criador da área do teatro, não sou nada imune ao que aqui foi escrito nem me ponho de parte desta análise. Antes pelo contrário, o meu ego é um animal terrível que umas quantas vezes foge ao controle do seu dono e as fases de aceitação, dúvida e birra, de uma critica ao meu próprio trabalho já fizeram parte de experiências vivenciais e porventura continuarão a fazer. Isto é também uma auto-critica, portanto. Quando ler este texto impresso no jornal e me encontrar com a minha imagem no espelho, vou certamente perguntar-me, “quem é que este obnóxio pensa que é para estar a criticar o meu trabalho ou a minha pessoa?!”.</div><div style="text-align: justify;"><br />Seremos com toda a certeza o maior inimigo de nós próprios, se não melhorarmos este aspecto e lutarmos contra ele. Percebe-se, pois, que hajam tão poucos a escrever abertamente sobre o que os rodeia nestas ilhas afortunadas. E os que o fazem são logo adjectivados, de serem isto ou aquilo. Deixem-se lá de tretas. Ouçam. Aprendam, mesmo com as criticas que considerem injustas ou mal intencionadas. Há sempre alguma lição a tirar de alguém que utilizou algum do seu tempo para fazer um julgamento critico da nossa actividade. Mesmo que seja maldosa ou graxista. Mas não partamos desse pressuposto. E, sobretudo, encaremos tudo isto com mais desportivismo. Falem bem de mim, falem mal de mim. Mas falem.<br /><br /></div>Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/10488925930318274685noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2540336488850235812.post-50263795901561236712009-01-22T03:29:00.003-01:002009-01-22T03:33:49.736-01:00Conversas de Café 05<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiiYQNcatYBSygzPJWlViQKkg16ToFaJCkonXw4J_IOdQs9PzI36cmzuzUubzkR9Q8Aafb1K6ZhCXEihZ0kSd5QhK1G_f2SmkYroLIkRVvFpFiRHqMAI_kLrSEebbvqtwakHxYhxLrELTY/s1600-h/cafezinho-1.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 320px; height: 304px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiiYQNcatYBSygzPJWlViQKkg16ToFaJCkonXw4J_IOdQs9PzI36cmzuzUubzkR9Q8Aafb1K6ZhCXEihZ0kSd5QhK1G_f2SmkYroLIkRVvFpFiRHqMAI_kLrSEebbvqtwakHxYhxLrELTY/s400/cafezinho-1.jpg" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5293971455099679346" /></a><span class="Apple-style-span" style="font-weight: bold;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: x-large;">Os Sítios da Cultura II</span></span><br /><br /><div style="text-align: justify;">No sítio oficial do Ministério da Cultura de Cabo Verde, na parte referente ao seu próprio Organigrama, está contemplada uma Delegação Regional da Cultura de S. Vicente, um serviço desconcentrado do Estado, que tem por missão, e passo a citar, “a prossecução das atribuições do Ministério da Cultura na respectiva área de intervenção.” O referido documento esclarece ainda das competências de uma delegação desta natureza: representar o Ministério, na respectiva área de intervenção; assegurar uma actuação coordenada, a nível regional, dos serviços e organismos; apoiar as iniciativas locais que, pela sua natureza, não se integram em programa de âmbito nacional ou que correspondam às necessidades e aptidões específicas da região. Neste documento oficial, disponível ao público em geral, ficamos a saber também que a Delegação Regional da Cultura não se encontra ainda estruturada, “criando com isso um vazio estrutural e organizacional que se impõe ultrapassar com urgência.” Esta noção de “urgência”, neste como noutros casos é bastante sui generis, tendo em conta que este é um organigrama com vários anos de existência.<br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Para além deste vazio pouco compreensível que nos faz questionar se em todo este tempo o Ministério da Cultura de Cabo Verde não encontrou nenhum cabo-verdiano com perfil para preencher esta vaga em S. Vicente, assumida pelo próprio Governo como “urgente”, há outra questão difícil de entender que se coloca na cidade do Mindelo, e que está relacionada com a inexistência de um estatuto oficial e jurídico de qualquer um dos três espaços culturais do Estado da ilha, cada um deles com características bem diversas, mas cuja situação e vazio legal certamente não favorecerá o trabalho dos funcionários do Ministério que aí trabalham e que fazem o que podem em condições muito difíceis. Vamos analisar três casos, expondo para cada um deles algumas ideias que tenho defendido nos últimos tempos.<br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-weight: bold;">Centro Cultural do Mindelo</span><br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">É inegável o esforço da actual responsável do Centro Cultural do Mindelo para fazer daquele espaço uma verdadeira casa da cultura. A existência de uma agenda mensal – algo inédito neste país – anunciando com alguma antecedência as actividades de cada mês do ano, as sucessivas intervenções para manutenção do espaço, principalmente na parte exterior e os contactos e abertura demonstrados ao longo deste período com a comunidade artística local, são os aspectos que destaco pela positiva. Mas nem tudo são rosas. Continuo a pensar que foi um erro “estratégico” ter retirado o bar do local onde estava e é inegável que o Centro Cultural do Mindelo perdeu parte da vida que tinha e que a comunidade artística ficou de certa forma órfã, pois deixou de ter um espaço onde se encontrar diariamente, aos finais da tarde, como acontecia quando o bar estava no local anterior. Não está em causa quem gera o espaço, embora possa parecer que esta opinião é motivada por interesses pessoais, já que era a Associação Mindelact que o geria. Mas não é esse o caso. Defendo por isso, até porque já se viu que onde está não resulta, que a zona de convívio por excelência que era o bar, deveria passar de imediato para o local anterior, porque neste momento é pouco acessível e não se tem encontrado ninguém que o queira explorar. Está pura e simplesmente inactivo, deste o festival Mindelact. É um apêndice morto. E o Centro Cultural do Mindelo só tem a perder com isso.<br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Mas há outro aspecto, ainda menos incompreensível: a aplicação de uma filosofia de auto-sustentabilidade imposta pela tutela e que considero pouco recomendável porque despreza uma das funções do Estado nesta área que é promover, ou criar condições para que as diversas manifestações culturais se possam manifestar. Não faz sentido aquele espaço, que tem o principal espaço de exposições, um dos dois auditórios e uma das duas livrarias da cidade, que alberga algumas das principais actividades culturais do Mindelo, e que funciona como pólo fundamental de promoção cultural de toda a região Norte, não tenha um estatuto jurídico ou um orçamento próprio, que lhe permita, por exemplo, não só ter uma produção própria, como convidar grupos, artistas e produtores para usar os espaços em regimes de co-produção ou parcerias. Não faz sentido os grupos de teatro, por exemplo, pagarem para utilizar um auditório que, apesar de existir há 10 anos, ainda não tem um único projector próprio nem sistema de som instalado. Penso ser desejável e mesmo justificável do ponto de vista de aplicação de uma politica cultural, ser o próprio Ministério da Cultura, através do Centro Cultural do Mindelo ou da delegação a instalar, a convidar que cada companhia de teatro em actividade proponha no início de cada ano duas produções teatrais e ter, desta forma, uma agenda de artes cénicas para um ano inteiro, além das actividades como o Março – Mês do Teatro ou o Festival Mindelact, já apoiadas pelo Ministério. E o mesmo na dança, na música, nas artes plásticas. É certo que há actividades próprias que são promovidas pelo Centro Cultural do Mindelo, mas temos assistido à dificuldade que a actual responsável tem em fazer o muito que faz, tendo que recorrer a patrocínios ou a favores pessoais. É certo também que muitas vezes são dadas aos grupos de teatro “condições especiais de pagamento”, mas parece-me pouco razoável que essa verba seja cobrada porque é preciso pagar a conta da luz, de telefone ou a pintura exterior de um edifício público. Não deveria ser o orçamento do Ministério a pagar essas contas tendo em conta que estamos a falar de um edifício público?<br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-weight: bold;">Museu de Arte Tradicional</span><br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Inaugurado com toda a pompa e circunstância, no último dia do mês de Outubro do ano passado, o Museu de Arte Tradicional é todo ele um tremendo equívoco condenado ao fracasso. Já o disse aqui, elogio a recuperação ao edifício histórico, em plena Praça Nova, mas não compreendo que não se tenha querido, ou podido, recuperar também o espírito da sua obra maior e aquela que mais frutos trouxe ao país independente, tendo representado um marco indelével das nossas artes plásticas, do nosso artesanato, da nossa museologia e do nosso ensino profissional artístico. Falo, claro, do antigo Centro Nacional Artesanato, cujo elogio fúnebre foi feito na noite de abertura do novo museu, como se fosse algo que não fizesse sentido hoje (penso que faz), como se os seus principais promotores (Luísa Queirós, Manuel Figueira e Bela Duarte) não estivessem activos e a produzir, como se muito do batique, tapeçaria e pintura que temos hoje em Cabo Verde, não se devesse ao trabalho pioneiro, generoso e competente desenvolvido pelo Centro Nacional de Artesanato durante mais de uma década. O que era o Centro Nacional de Artesanato e o que fazia? Para quem não se lembra ou não sabe, e muito rapidamente, era um museu bem concebido, dedicado ao artesanato nacional; era um centro de investigação; era um centro de recolha e estudo do artesanato de todo o arquipélago; era uma escola de artes, de onde saíram novas técnicas e muitos artesãos e artistas; era um espaço vivo, onde se podia ir ver e falar com quem produzia e criava, nos teares, nos espaços de pintura, nos ateliers de impressão ou nas salas de aula. <br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">A alternativa que nos é dada hoje, com um museu de Arte Tradicional – que ainda ninguém sabe explicar o que significa – apresenta um conteúdo museológico mais próximo de uma Casa de Memória do que de um Museu. E mesmo se tivesse sido esse o objectivo, penso que a matéria exposta é de uma pobreza franciscana tal que não honra nem a memória nem a história daquele local memorável. Não se sabe se foi a pressa de cumprir prazos, a vontade de evitar o ridículo de anunciar, pela enésima vez, a reabertura de um espaço público, sem que isso viesse a acontecer efectivamente, que fez com que o resultado final fosse tão desolador. Resta esperar que quem está lá hoje, tenha a capacidade de absorver o espírito de uma época, tenha a criatividade e o apoio necessário para transformar aquele espaço num museu vivo, atraente, utilizado por todos e orgulho da cidade do Mindelo. Hoje, ainda está longe de cumprir esse desiderato. <br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-weight: bold;">Réplica da Torre de Belém</span><br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">A exposição de pintura – e escultura - dedicada aos Naufrágios de Cabo Verde, da autoria da pintora Luísa Queirós, promovida pelo Instituto Camões – Centro Cultural Português / Pólo do Mindelo, não foi só uma demonstração de que é possível ver uma exposição de artes plásticas bem elaborada, pensada, executada, com percurso definido, iluminação própria, conceptualização coerente e qualidade artística correspondente. Foi também uma novidade pelo local onde aconteceu. Na réplica da Torre de Belém, cuja recuperação durou muito tempo, custou muito dinheiro, e está pronta – nesta primeira fase – há muito tempo. Mas o edifício continua fechado. Inexplicavelmente. E compreende-se que tenha sido tão difícil conseguir as respectivas autorizações oficiais para fazer aquela actividade nesse edifício histórico do Mindelo. É que, com esta exposição, fica provada a sua funcionalidade e deixa de haver justificação plausível para que este espaço não seja mais aproveitado. A minha sugestão é simples: que se faça daquele lugar uma galeria de Arte Moderna cabo-verdiana, um espaço vivo, utilizado pelo Estado de Cabo Verde para promover os seus artistas. Que estes fossem convidados a propor grandes exposições temáticas, que estas fossem executadas por quem sabe, que aquele passasse a ser um espaço que tem todas as condições físicas, geográficas e sociais para se transformar num local vivo, interactivo, com uma programação própria. O espaço ideal para um Museu de Arte Moderna, suportado pelo Ministério da Cultura. Depois da exposição da Luísa Queirós já não há desculpa para o choradinho da falta de espaço de promoção dos nossos artistas. Essa uma das maiores conquistas dessa notável exposição. <br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div>Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/10488925930318274685noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2540336488850235812.post-65099818245246871472008-12-11T21:30:00.002-01:002008-12-11T21:35:07.579-01:00Conversas de Café 04<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://3.bp.blogspot.com/_WG_n5avdLFY/SUGT1W6GIWI/AAAAAAAAEsY/O6u_xrwF3uI/s1600-h/ist2_5433628-coffee-beans.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 380px; height: 297px;" src="http://3.bp.blogspot.com/_WG_n5avdLFY/SUGT1W6GIWI/AAAAAAAAEsY/O6u_xrwF3uI/s400/ist2_5433628-coffee-beans.jpg" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5278662783146533218" /></a><br /><br /><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-weight: bold;"><span class="Apple-style-span" style="color: rgb(102, 51, 0);"><span class="Apple-style-span" style="font-size: x-large;">Os Sítios da Cultura I</span></span></span><br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O Estado cabo-verdiano tem hoje um conjunto de infra-estruturas próprias que, embora manifestamente insuficientes, lhe poderiam à partida garantir um conjunto de valências muito palpáveis, de forma a melhor cumprir e fazer cumprir alguns dos pressupostos e objectivos que justificam a existência de um Ministério da Cultura, ou seja, um departamento governamental com um razoável grau de autonomia e intervenção, porque não vinculado a nenhuma outra pasta ministerial. <br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Já disse aqui que não tenho por hábito “mandar bocas” só por recreio e que pessoalmente até gosto mais de reflectir sobre possíveis soluções, que alguns julgarão completamente impraticáveis por questões orçamentais, do que apontar o dedo a seja quem for ou chorar sobre os problemas que estão à frente dos nossos narizes e que, portanto, não constituem novidade para ninguém. Sempre defendi que a existência de problemas, de carências, de dificuldades, deveriam servir, em primeiro lugar, como motores na procura de soluções. Que se vejam os problemas e as claras deficiências do sector da Cultura não a montante, mas sim a jusante, ou seja, transformar as dificuldades em oportunidades. <br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Quando falamos de oportunidades, há logo quem venha abanar uns papeis cheios de números e de obstáculos impossíveis de ultrapassar, defendendo que mais vale ficarmos quietos porque nem pensar em conseguir arranjar a verba necessária para tantos delírios. Que me desculpe quem assim pensa: desde que soube que ao Ministério da Cultura cabia uma dotação de 3% do bolo do Orçamento Geral do Estado – um sonho irrealizável para a grande maioria dos Ministros da Cultura de qualquer outro país – mais convencido fiquei de que o problema da aplicação de uma politica pública para a área das Artes e da Cultura em Cabo Verde está muito mais na forma como o dinheiro está a ser gerido do que na quantidade deste que é colocado ao serviço do titular da pasta e sua equipa. <br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">É nesta perspectiva de comentário construtivo que vou deixar aqui algumas reflexões sobre como penso que poderiam ser ocupadas algumas das infra-estruturas ligadas ao Ministério da Cultura, a maioria das quais continua, hoje e depois de vários anos de funcionamento efectivo, a funcionar sem qualquer enquadramento orgânico e/ou legal (um outro assunto que não cabe no âmbito deste texto). Vamos falar, na presente crónica, do Auditório Nacional Jorge Barbosa, do Palácio da Cultura Ildo Lobo e do Arquivo Histórico Nacional, todas estruturas situadas na cidade da Praia. Num próximo texto, falaremos do Centro Cultural do Mindelo, do Museu de Arte Popular e da réplica da Torre de Belém, no Mindelo. Finalmente, numa terceira parte, procuraremos dar conta da nossa opinião relativamente aos locais existentes fora dos dois maiores centros urbanos do pais, com destaque para o caso paradigmático da Cidade Velha.<br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-weight: bold;"><span class="Apple-style-span" style="color: rgb(102, 51, 0);">Auditório Nacional Jorge Barbosa</span></span><br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Já o disse várias vezes publicamente: sou frontalmente contra a entrega a um privado da gestão do Auditório Nacional. Não faz qualquer sentido. A solução para esta infra-estrutura seria a entrega da mesma a uma equipa multi-disciplinar, ligada às Artes do Espectáculo, com provas dadas e capaz de criar uma produção própria digna de, por exemplo, representar o Estado em importantes efemérides, visitas protocolares e de Estado de outros países ou, mais importante, de promover um programa de acesso global da população – da Praia, mas não só – a bens de consumo cultural. Com o trabalho da Companhia Raiz di Polon, que seria uma excelente base para começar algo do género, e juntando algumas das pessoas que tem desenvolvido um trabalho meritório no campo das artes cénicas, à volta do actor e encenador João Paulo Brito, mais um gestor cultural minimamente preparado, teríamos uma formação inicial do que poderia ser uma Companhia Nacional de Teatro e Dança. Esta companhia seria obrigada a produzir, pelo menos, seis espectáculos por ano, dois de dança, dois de teatro e dois multidisciplinares, estes últimos envolvendo músicos nacionais, contratados para o efeito. O espaço poderia ser utilizado, durante parte do dia, para a promoção de uma Escola de Iniciação ao Teatro e Dança, que teria como um dos objectivos, desde logo, o recrutamento de novos e futuros valores, que poderiam alimentar a própria companhia nos anos vindouros. Nos espaços do Auditório poderiam funcionar ainda mais duas valências importantes: uma de artes plásticas e fotografia, utilizando o hall e os corredores contíguos para a apresentação de exposições de artistas nacionais consagrados e novos valores em afirmação, e outra utilizando o auditório como local para a projecção de documentários, de produção nacional e internacional, também envolvendo em paralelo as escolas, de forma a levar um maior número possível de jovens a ver, discutir e comentar os documentários vistos e levar esse conhecimento e essa experiência para a sala de aula. <br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">A verba dispendida seria muita? Talvez, mas façam as contas, muito por alto, aos ganhos mensuráveis: seis espectáculos garantidos, prontos para serem vistos por milhares de cidadãos em condições a acordar entre a estrutura do Auditório Nacional e as escolas ou as Universidades existentes, com as empresas públicas ou privadas, ou ainda para viajar e representar o Estado – neste último caso, de cada vez que houvesse uma importante viagem do Presidente da República, por exemplo, para além de empresários, nunca olvidados nestas ocasiões, sempre se poderia levar alguma mostra sustentada do que é a produção cultural em Cabo Verde, porque as relações bilaterais entre dois países não se podem resumir apenas às questões económicas; teríamos, em pleno funcionamento, uma escola de formação básica para crianças e jovens, nas áreas de teatro e dança, transformada numa mina para descoberta de futuros talentos; e, last but not least, uma infra-estrutura totalmente dinamizada e voltada para o cidadão, como deve ser, por definição e natureza, um espaço que se quer público.<br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-weight: bold;"><span class="Apple-style-span" style="color: rgb(102, 51, 0);">Palácio da Cultura Ildo Lobo</span></span><br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Tenho que dizer isto: na última visita que fiz ao designado Palácio da Cultura Ildo Lobo fiquei chocado com o ar de abandono e de não aproveitamento de um edifício que, não só custou uma fortuna ao Estado de reabilitar, como tem características físicas e uma localização privilegiadas, de forma a poder albergar algum projecto pioneiro e verdadeiramente revolucionário. Na actual conjuntura, o passo a dar seria lógico: assinatura imediata de um convénio com a Universidade de Cabo Verde e criação, com carácter de urgência nacional, de uma equipa para se avançar, de imediato, com uma licenciatura na área da música em Cabo Verde. Fazendo jus ao seu nome, o Palácio da Cultura Ildo Lobo passaria a albergar a Escola Superior de Formação e Estudos Musicais, da Universidade de Cabo Verde. Mais nada! O local tem salas prontas para ministrar aulas, teóricas e práticas, tem instrumentos prontos a serem utilizados por quem sabe, tem locais fantásticos para socialização de alunos e professores, tem um pátio protegido e um pequeno auditório ideal para pequenos concertos, apresentação de exercícios de alunos ou para hapenings musicais, que poderiam transformar aquele espaço num verdadeiro ninho de formação, promoção, confraternização e socialização de um ensino musical metódico, tecnicamente preparado e pedagogicamente consequente. Querem entregar os espaços do Palácio Ildo Lobo para exploração de privados, para quê? Para depois andar a Universidade de Cabo Verde à procura de um local para um projecto já em curso, possivelmente pagando uma fortuna pelo seu aluguer, quando o próprio Estado tinha um lugar muito mais apropriado e que além disso, tinha sido baptizado com o nome de uma das maiores vozes da história da nossa música? Estou certo que Ildo Lobo, esteja onde estiver, iria ficar feliz ao saber que aquele lugar se havia transformado num local de conhecimento e prática no campo musical, que tanta riqueza e benefícios já deu a Cabo Verde. Por isso mesmo, a quem apanha de imediato a máquina de calcular para nos mostrar o quanto impossível é esta sugestão em termos financeiros, pergunta-se: não é tempo já de o Estado retribuir e dar à música um pouco do muito que tem recebido dela todos estes anos?<br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-weight: bold;"><span class="Apple-style-span" style="color: rgb(102, 51, 0);">Arquivo Histórico Nacional</span></span><br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O Arquivo Histórico Nacional (AHN), é o único, destes três casos, que tem existência legal e é considerado na orgânica oficial do Ministério da Cultura sob a forma de Instituto, e é aqui mencionado por uma outra razão, que explicarei já de seguida. Este organismo público é, por natureza, responsável pela preservação do património histórico e arquivístico de Cabo Verde tendo entre outras atribuições, recolher, inventariar, seleccionar, conservar, tratar e promover o património histórico arquivístico. <br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Ora, tendo em conta estas funções, deveria, na minha modesta opinião, ser considerada como sub-estrutura do AHN, uma Cinemateca e um Centro Nacional de Fotografia. Existem alguns fotógrafos, entre eles alguns com longa tradição familiar na área, que tem um riquíssimo espólio de fotografia cabo-verdiana e mesmo de filmes, que necessitam de ser, sob pena de se perderem para sempre, urgentemente recolhidas, catalogadas, tratadas, informatizadas, protegidas, a bem da memória visual e imagética da Nação. A percepção que tenho é de que o trabalho feito na área da recolha e tratamento documental é excelente, mas ainda insuficiente. Aqui pouparíamos em verbas, porque não se propõem a existência de novos organismos e institutos, mas sim a consideração da importante parcela documental que é a imagem, fixa ou em movimento. Além disso, parece-me que, apesar de algumas iniciativas terem sido promovidas nos últimos anos, o AHN carece de uma maior abertura à sociedade civil com a promoção de actividades públicas, como conferências, encontros e exposições temáticas que poderiam ser realizadas em conjunto com a Universidade de Cabo Verde, por exemplo, vocacionada também ela para a promoção do conhecimento e da divulgação da nossa história. <br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><br /><span class="Apple-style-span" style="font-size: small;"> (Continua na próxima crónica com: Os sítios da Cultura II)</span>Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/10488925930318274685noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-2540336488850235812.post-49996232962543085652008-12-01T00:58:00.001-01:002008-12-01T13:43:34.290-01:00Conversas de Café 03<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhStt73zcfnlHAiiBmsTFj2GKKHu3G_hMZH7-VnCFT9llHfRYnq3hdYH1aCPxfII6rZBcNOyZmT9QPG9FUY3ug_eapDRWGiIenehwdlcTQZMwtltIQc9xrjRvdOWREmpzXAPdNGh83YTPY/s1600-h/coffee-cup.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 380px; height: 308px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhStt73zcfnlHAiiBmsTFj2GKKHu3G_hMZH7-VnCFT9llHfRYnq3hdYH1aCPxfII6rZBcNOyZmT9QPG9FUY3ug_eapDRWGiIenehwdlcTQZMwtltIQc9xrjRvdOWREmpzXAPdNGh83YTPY/s400/coffee-cup.jpg" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5274832234408796754" /></a><br /><span class="Apple-style-span" style="font-weight: bold;"><span class="Apple-style-span" style="font-size:x-large;"><span class="Apple-style-span" style="color: rgb(102, 51, 0);"><br /></span></span></span><div><span class="Apple-style-span" style="font-weight: bold;"><span class="Apple-style-span" style="font-size:x-large;"><span class="Apple-style-span" style="color: rgb(102, 51, 0);">Desenvolvimento e Política Cultural</span></span></span><br /><br /><div><br /><div style="text-align: justify;">Ficamos a saber, na semana em que se organizou o Fórum sobre Economia da Cultura, promovido pelo Ministério da Cultura de Cabo Verde, que este já tem um site (ou um sítio, como se escreve em língua portuguesa) onde dá conta da sua orgânica, dos seus objectivos, das suas actividades, das intervenções do Ministro, entre outros destaques. Um sítio que veio em boa hora, porque se há um problema claro no Ministério da Cultura que temos hoje é na forma como este (não) comunica com os seus potenciais parceiros, com os agentes culturais e com a sociedade civil. Ao utilizar esta ferramenta poderosa, útil e prática que é a Internet, o Ministério da Cultura deu um importante passo no sentido de estar junto de quem interessa. Além do mais, se em termos de conteúdo, ainda deixa algo a desejar, o que é perfeitamente normal pois está ainda no seu início, é importante realçar o excelente grafismo, com um bom gosto a todos os níveis, que é digno de realce.<br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Sejamos claros: este Governo fez algo de muito importante. Manteve na sua orgânica de base um Ministério da Cultura. Eu, pessoalmente, sempre defendi este modelo, dada a importância que continuo a dar à componente cultural no âmbito do processo de desenvolvimento do País. Ainda me lembro dos tempos em que tínhamos a componente cultural da governação anexa ao Ministério da Defesa, por exemplo (!). E mesmo que seja claro que a aplicação de uma política cultural do Estado pode e deve estar intimamente ligada a outros sectores, nomeadamente a Educação, o Turismo ou a Economia, não deixa de ser um sector tão complexo e fundamental, que exige que não seja anexado ou secundarizado por nenhum outro ministério, perdendo a sua autonomia e a sua capacidade interventiva na e com a sociedade. <br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-weight: bold;"><span class="Apple-style-span" style="color: rgb(51, 0, 0);">Um ponto de ordem</span></span><br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Que fique claro também: falo muito de cultura, de política cultural, do papel do Estado no desenvolvimento cultural da Nação, por serem assuntos ligados à minha actividade profissional, mas também porque é um assunto que me apaixonou desde sempre, porque continuo a pensar que vale a pena lutar pelos nossos ideais. Quero com isto dizer que não tenho, nem nunca tive, ambições políticas (muito menos partidárias) e que, sendo assim, não pretendo com as minhas opiniões marcar nenhuma posição para nenhum eventual cargo público. A minha maior ambição, muito sinceramente, é continuar a crescer enquanto criador, continuar a ter a capacidade de aprender enquanto formador, continuar a lutar por um lugar ao Sol para o (e não no) teatro cabo-verdiano, luta essa que é feita enquanto encenador, actor, dramaturgo, professor, dinamizador e produtor cultural, ligado à minha companhia de teatro, que tanto me orgulha, o Grupo de Teatro do Centro Cultural Português - IC, no Mindelo, e a uma Associação que revolucionou o panorama teatral cabo-verdiano, a Associação Mindelact, feita e construída tendo por base a partilha e o afecto entre os amantes das artes cénicas, e que é hoje responsável, entre outras realizações, por aquele que será provavelmente o melhor festival de teatro da actualidade do continente Africano, um Centro de Documentação e Investigação Teatral que é um exemplo (porque funciona!) ou uma colecção de dramaturgia nacional, que publica peças de teatro de autores nacionais. <br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Também é importante sublinhar que nada de pessoal me move contra ou a favor de quem quer que seja dentro do Ministério da Cultura. Como em todos os lugares tenho pessoas com quem me identifico mais, outras menos, mas nada que se possa aproximar do que conhecemos como «ódios ou amores de estimação». Não os tenho em relação a ninguém, embora admita a possibilidade de haver quem os tenha em relação à minha pessoa. Antes pelo contrário, independentemente do que me aproxima ou separa dessas pessoas, admiro a generosidade de quem presta serviço público, o melhor que pode e sabe, defendendo os seus pontos de vista, lutando pelas suas ideias (no caso de as ter), como eu faço em relação aos meus pontos de vista e aos meus ideais, sendo certo que o grau de responsabilização é diferente nas pessoas que prestam serviço público do que no meu caso, que tenho que prestar contas à minha entidade patronal, a uma Assembleia Geral ou ao público que vai ver os espectáculos onde tenho alguma intervenção enquanto criador.<br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Isto para dizer que quando critico, ou sugiro, ou «mando as minhas bocas» às políticas culturais ou ao Ministério da Cultura, ou falo de algum aspecto específico da componente cultural da Nação cabo-verdiana o faço, em primeiro lugar, pelo meu incomensurável amor pelo País que me adoptou (e adoptei), e depois, como é evidente, por vontade de partilhar ideias, de discutir, de conversar, de aprender mais, de ouvir, de observar, de crescer e, algumas vezes, para mudar de opinião. De forma descomplexada, porque se há algo que aprendi neste percurso, é que na vida – e na arte – não há verdades absolutas. E portanto, mesmo as posições que são tornadas públicas hoje, podem ser refutadas e contrariadas por quem tenha capacidade, paciência ou vontade de me provar o contrário.<br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-weight: bold;"><span class="Apple-style-span" style="color: rgb(51, 0, 0);">Economia como Telhado</span></span><br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Não tenho nenhum problema em juntar a palavra «economia» com a palavra «cultura». Uma e outra fazem parte do nosso dia-a-dia de uma forma tão presente que muitas vezes nos esquecemos do seu peso nas nossas rotinas, nos nossos vícios, amores, desamores, paixões, trajectos, escolhas ou formação pessoal. Não tenho preconceitos, enquanto criador e «homem da cultura», em relação à Economia. Mas desconfio desta actual insistência em ligar Economia à Cultura, promovendo uma «Economia da Cultura», strictu sensus, num Estado onde quase tudo está por fazer no que diz respeito a uma real aplicação de uma política cultural. Diria mesmo que falar de Economia, e mais ainda, falar de auto-sustentabilidade (outro termo muito em voga actualmente), deveria fazer parte do último patamar do longo e complexo edifício da política cultural de uma Nação. O telhado da casa. Fundamental, porque sem ele não temos condições de ter um lar minimamente habitável. Mas antes do telhado, temos que ter o projecto, o terreno, as fundições, as paredes, as portas e janelas, as canalizações, o sistema eléctrico, e tudo o mais que faz com que uma casa possa funcionar como casa. Depois temos o telhado. As pinturas. Os acabamentos. <br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">No caso da Cultura, ou melhor, da aplicação concreta da acção pública no desenvolvimento cultural, a base é, do meu ponto de vista, a formação artística. A promoção, directa e indirecta, de escolas, formações, ensino formal e/ou informal, nas áreas da música, do teatro, da dança, das artes plásticas. Isto passa, naturalmente, por um processo, neste momento a decorrer em Cabo Verde com 20 anos de atraso, de revisão dos currículos e a inclusão nestes da Educação Artística, desde os níveis básicos até ao Universitário. Mas não chega. É preciso mais. Muito mais. E aqui, o Estado e principalmente o Ministério da Cultura, tem uma enorme responsabilidade. Esta percepção, ficou ainda mais vincada, quando sabemos que pouco mais de 30% daqueles que fazem parte da actual classe artística cabo-verdiana tem formação específica na sua área de intervenção. Ou seja, cerca de 70% dos nossos artistas são autodidactas, baseando a sua actuação num puro empirismo. Não é que ser autodidacta tenha algo de negativo, muito pelo contrário, continuo a defender que mesmo os licenciados, mestres e doutores, devem ser autodidactas, ou seja, continuar com vontade de aprender, por iniciativa própria. Mas nesta área de actividade, como em qualquer outra, a formação é fundamental. Por alguma razão não existem médicos, advogados ou engenheiros autodidactas, mesmo admitindo que o grau de criatividade exigido nestas profissões possa ser bem menor do que no caso dos artistas.<br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-weight: bold;"><span class="Apple-style-span" style="color: rgb(51, 0, 0);">Cultura e Desenvolvimento</span></span><br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Como quase tudo no mundo contemporâneo gira à volta do contexto económico, é importante salientar que, do ponto de vista antropológico, a expressão «relação entre cultura e a economia» sempre fez sentido já que a economia faz parte da cultura de um povo. O economista David Landes, no seu notável livro, «A Riqueza e a Pobreza das Nações» afirmou algo que me parece muito claro: «Se aprendemos alguma coisa na história do desenvolvimento económico é que a Cultura faz toda a diferença.» Cabe-nos, pois perguntar: a cultura é um instrumento do desenvolvimento, entendido no sentido de progresso material, ou ela é o fim e o objectivo do desenvolvimento, compreendido no sentido do progresso da vida humana sob as suas múltiplas formas e na sua totalidade? <br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Quando pararmos para reflectir sobre esta pergunta, absolutamente central para a definição de um caminho coerente no que diz respeito à aplicação de uma politica cultural coerente e integradora. Quando, na nossa reflexão, tivermos presente essa afirmação de David Landes. Quando pararmos um pouco para pensar nas actuais condições estruturais, políticas, sociais e económicas de Cabo Verde, com alguma naturalidade poderemos concluir que a cultura será o objectivo último de um desenvolvimento entendido como o progresso total do ser humano. Quer isto dizer que nenhum desenvolvimento pode ser verdadeiramente atingido e durável se não tiver em conta e não explorar a força vivificante da cultura, se ignorar os modos de vida, os sistemas de valores, as tradições, as crenças, os conhecimentos e os talentos da comunidade. Aliás, nós sabemos isso pelo menos desde Amílcar Cabral. Mas às vezes parece que nos esquecemos com demasiada facilidade. <br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Por isso continuo a ter alguma dificuldade em compreender que num país como o nosso se insista tanto no discurso político da «indústria cultural» ou da «auto-sustentabilidade da cultura», sem qualquer questionamento ou polémica, numa envergonhada tentativa de desresponsabilização do Estado enquanto veículo maior do desenvolvimento cultural do arquipélago. O facto de não haver conhecimento de nenhum Plano de Desenvolvimento Cultural que justificasse, sustentasse e guiasse uma política cultural foi, pelo menos até à data da realização do referido Fórum, um sinal bastante preocupante. Quem sabe se com as recomendações saídas do Fórum, fruto da generosidade e do trabalho de um grupo notável de pessoas., possamos ver alguma luz ao fundo do túnel.<br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-size:small;">(Continua na próxima crónica com: Os sítios da Cultura)</span><br /></div><br /></div></div>Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/10488925930318274685noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2540336488850235812.post-31402556257168400622008-11-02T13:58:00.003-01:002008-11-02T14:04:16.283-01:00Conversa de Café 02<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi1jif6q0DGX31CLxmi2RIaxp5D7Ozjje9v-AnM9pqzBv6ORcWXierMCWc6SBSrGzslzGxf7vP8XJCyH_9CSdKyWk3P3N2NNCU4dXNxS82EvKr5hbEGTSxhzJYD1GxoMfATutTV1p6Il9Q/s1600-h/coffee+03.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5264075526212958994" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; CURSOR: hand; HEIGHT: 321px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi1jif6q0DGX31CLxmi2RIaxp5D7Ozjje9v-AnM9pqzBv6ORcWXierMCWc6SBSrGzslzGxf7vP8XJCyH_9CSdKyWk3P3N2NNCU4dXNxS82EvKr5hbEGTSxhzJYD1GxoMfATutTV1p6Il9Q/s400/coffee+03.jpg" border="0" /></a><br /><div align="justify"><strong><span style="font-size:180%;color:#330000;">Obama e Outros Santos</span></strong><br /><br />Hoje, dia em que escrevo a presente crónica, é 01 de Novembro, dia de todos os santos. A data ideal para rezar a todos os santos para que quando vocês estiverem a ler esta crónica, o santo de que todos falam, já possa estar praticamente com os dois pés na casa mais branca do planeta. Aqui faltam três dias, aí parece que foi ontem. E foi mesmo! Mas não é o único santo de que se fala nos cafés da cidade. No Mindelo, outros santos são motivo de conversa e vamos deixar registo dos mais badalados:<br /><br /><strong><span style="color:#330000;">Santo Obama</span></strong><br /><br />Não houve como ficar indiferente a estas eleições. Durante as últimas semanas, as eleições norte-americanas foram um dos temas principais nos cafés, blogues e na comunicação social, no mundo e também aqui em Cabo Verde. Quase todos desejaram que o senador Barack Obama fosse eleito o próximo Presidente dos Estados Unidos da América. O senador tornou-se já um ícone e uma figura «histórica», mesmo antes de se saber qual o resultado final de toda esta longa batalha, que começou nas primárias numa luta sem tréguas contra o influente e poderoso clã Clinton. Já se ironizou, na imprensa americana, que Obama é tão perfeito que só pode ser mesmo filho do Super-Homem e ter nascido em Krypton e até aqui em Cabo Verde, já é referenciado por políticos como uma das suas «referências maiores», ao lado de um Nelson Mandela, Luther King ou Amílcar Cabral, como se o Senador Obama não fosse um ilustre desconhecido há apenas dois anos atrás. Mas isto é um pouco como o surf, não há como resistir em ir naquela onda maior, que nos leva alegremente em conjunto para uma bela praia de areias brancas…<br /><br />Não é preciso estar sempre a repetir o óbvio. Estas eleições, ou melhor, o resultado destas eleições, influenciarão de forma marcante os acontecimentos mundiais nos próximos anos. Como o desastroso reinado de George Bush mudou o mundo e transformou-o num local muito mais perigosos para se viver, também se espera que com Barack Obama muita coisa possa mudar. E não é só na questão do Iraque, cuja retirada, sem honra nem glória, parece inevitável. Aliás, quem julga que os americanos vão se transformar nos maiores pacifistas do planeta, tirem o cavalinho da chuva. O apoio público manifestado pelo republicano Colin Powell, o mesmo que foi às Nações Unidas tentar demonstrar que o Iraque tinha armas de destruição massiva, não é inocente e o próprio candidato já disse que quer intensificar as operações militares no Afeganistão (como se «aquilo» não fosse um país independente, mas sim o quintal da sua casa) e que não terá problemas em invadir um país se disso depender a «Segurança Nacional».<br /><br />Cá para mim, que ninguém nos ouve, eu até penso que ele diz estas coisas porque é a única forma de ser eleito. Mostrar «pulso», ser «implacável» perante quem ameaça o bem estar dos americanos, é fundamental. Mas não acredito que, na prática, a política de uma administração com Barack Obama à cabeça, tenha o carácter belicista que certos discursos podem fazer querer. Acredito antes numa reviravolta completa na política ambiental, no estreitar das relações entre os povos sem procura de imposição pela força e o término de certas aberrações com o campo de concentração na ilha de Cuba, local que envergonha qualquer país defensor dos direitos humanos. Acredito que o mundo poderá melhorar se Barack Obama ganhar.<br /><br />Ver um crioulo, neto de africanos, à frente da maior nação do Mundo, não é algo fenomenal? E depois, como lembrou o humorista português Ricardo Araújo Pereira, toda a gente conhece as regalias a que o Presidente dos EUA tem direito: morar na Casa Branca ou fazer-se deslocar no Air Force One. Depois de tudo o que aconteceu, não deixa de ser extraordinário que um povo tenha a coragem de pôr um avião daquele tamanho à disposição de um homem chamado Hussein ou que um negro seja o grande chefe de uma casa chamada branca. Por tudo isto, se desejou, aqui em Cabo Verde e um pouco por todo o lado que Barack Obama vença as eleições e se torne Presidente. Ou, como concluiu o referido humorista, «na pior das hipóteses, que lhe aconteça o mesmo que aconteceu a Bush: que perca as eleições e se torne Presidente.»<br /><br /><strong><span style="color:#330000;">Santa Luísa</span></strong><br /><br />Luísa Queirós é uma artista extraordinária que admiro particularmente. Tem um currículo espantoso e apresenta-se este mês com uma exposição temática que considero ser representativa do melhor que ela já produziu durante a sua longa carreira, subordinada ao tema dos Naufrágios ocorridos em Cabo Verde. É muito difícil colocar em palavras o poder visual daqueles quadros, destas obras de arte, elaboradas a partir de múltiplas técnicas mistas sobre tela ou sobre papel e cartão, com colagens de diferentes materiais e as já típicas figuras e figuronas de Luísa Queirós que pululam naquelas pinturas como se falassem directamente connosco ou quisessem mesmo saltar daquele espaço vivo e invadir o nosso quotidiano. Eu, que sou até bastante viajado, e tive o privilégio de ver ao vivo obras de grandes mestres da pintura universal, desde Picasso, Monet, Van Gogh ou Leonardo da Vinci, não é todos os dias que me emociono até às lágrimas diante de uma pintura. As obras de Luísa fazem-me isso, emocionam-me até ao tutano, elevam a nossa condição humana a patamares superiores e por isso mesmo, cumprem a sua missão primordial, enquanto criações artísticas, e que poucas conseguem almejar de forma tão arrebatadora: tornam-se património da humanidade, carregam uma mensagem de esperança e fazem-nos sentir mais felizes.<br /><br /><strong><span style="color:#330000;">Santo Vera Cruz</span></strong><br /><br />Como andei anos a perguntar pela conclusão da obra, é de elementar justiça que faça aqui eco desta importante inauguração, que teve lugar no último dia do mês de Outubro. Depois de ser anunciado por diversas vezes pelo Ministério da Cultura eis que, finalmente, um dos mais nobre edifícios da cidade volta a ter alguma utilidade real, e é aberto à cidade, aos seus cidadãos e aos ilustres visitantes. Um edifício que foi, entre outras funções que desempenhou ao longo da história do Mindelo, casa particular do Senador Vera Cruz, que a ofereceu à edilidade, para nela se instalar o primeiro Liceu de S. Vicente. Um gesto de importância histórica e que tornou a figura do Vera Cruz uma das mais queridas da cidade. Pelo que se pôde ver, a recuperação do antigo edifício, ex-Centro Nacional de Artesanato, foi tão demorada quanto bem realizada e todos devemos aplaudir a sua concretização. Resta saber o que é isso de «Museu de Arte Tradicional» porque numa primeira visita não ficou nada claro. Desejando que não venha a ter a mesma «sorte» que um outro certo palácio dito cultural, também resultante de um belo trabalho de recuperação de um edifício antigo e nobre, este é o momento de dizer, em nome da coerência, aplausos, sim senhor!<br /><br /><strong><span style="color:#330000;">Santo Petróleo</span></strong><br /><br />Há mais de um mês atrás, no mesmo momento em que se anunciava mais um aumento do preços dos transportes públicos, o preço dos combustíveis – logo de todos os produtos a ele associados – teimava em não baixar, apesar da descida do preço petróleo nos mercados internacionais, quando foi a sua subida que havia então provocado os muitos aumentos que sofremos nos últimos tempos. Há um mês atrás, o preço do petróleo estava em 90 dólares por barril. Hoje, 30 dias depois, está nos 65 dólares por barril. Há um ano estava valendo o dobro desse valor. Para quando uma descida, na mesma proporção, dos preços dos combustíveis? </div><br /><br /><span style="font-size:85%;">Mindelo, 01 de Novembro de 2008</span>Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/10488925930318274685noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2540336488850235812.post-16838280715719821882008-10-23T22:03:00.004-01:002008-11-02T13:58:50.892-01:00Conversa de Café 01<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjb7_hmW-qK_ZZbUo1iQf84dL1XH57Q82PmExWWjIkgpJg4h_4rayvm24x7fmTl4-x0wc9L89vrDn3MSzXb3KIVEG8Bkx9TKLnxJlVtmtjRVhdIGhB9_RNkmaWCwXYa_DmbneHDkyaVQwk/s1600-h/Caf%C3%A9+01.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5260491960967064450" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 320px; CURSOR: hand; HEIGHT: 254px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjb7_hmW-qK_ZZbUo1iQf84dL1XH57Q82PmExWWjIkgpJg4h_4rayvm24x7fmTl4-x0wc9L89vrDn3MSzXb3KIVEG8Bkx9TKLnxJlVtmtjRVhdIGhB9_RNkmaWCwXYa_DmbneHDkyaVQwk/s320/Caf%C3%A9+01.jpg" border="0" /></a><br /><br /><br /><div align="justify"><strong><span style="font-size:180%;color:#330000;">O que é Nacional é bom</span></strong><br /><br />Nunca mais me esqueci do discurso que o Primeiro-Ministro, José Maria Neves, há uns anos atrás, proferiu em S. Vicente no encerramento de um Fórum sobre o desenvolvimento da ilha do Porto Grande. Uma longa intervenção, de improviso, de cerca de uma hora ou mais, que me deixou espantado, não só pela excelência da intervenção, como pela capacidade de raciocínio, assim como pelo próprio discurso e seu conteúdo, naquela que terá sido a mais bem elaborada declaração de amor que já ouvi fazer à minha ilha, campanhas eleitorais incluídas.<br /><br />Ao ler a longa conversa de José Maria Neves com Carlos Veiga, no jornal A Semana, mais uma vez constatamos que ali está um homem com uma fé imensa no seu país e no seu povo, que acredita, que se entusiasma, que quer fazer mais e melhor. Mesmo que queira seguir por um caminho diferente daquele que nós pensamos ser o melhor, a verdade é que estamos perante um «acreditador militante» (isto para «roubar» o termo a um amigo meu). Nessa longa entrevista, concluímos da vontade, da necessidade, da urgência de se investir, cada vez mais e melhor, na justiça, na educação, na saúde, na segurança, no apoio às PME, na economia, na agricultura, na bolsa de valores, no futuro tribunal constitucional, na energia, no ambiente, nas infra-estruturas rodoviárias, nos portos e aeroportos. Quando chegamos à área da cultura, a conversa, estranhamente, muda de rumo, o que me custa um bocadinho a entender, não só por ser a área sensível que é, mas por vir da voz de alguém que afirmou há bem pouco tempo que «a cultura tem feito mais pelo país do que qualquer Governo.»<br /><br />Pois é!, quando chegamos à vertente cultural da governação, deixa de haver essa tal vontade, necessidade e urgência de o Estado investir, pelo menos na mesma perspectiva e da mesma forma descomplexada com que é assumida para qualquer outra área de intervenção do Estado. Fala-se desse tremendo equívoco que é a Indústria Cultural como se fosse uma fórmula mágica que resolverá todos os problemas (um tema a que voltarei, certamente, numa próxima crónica) e em evitar a subsídio-dependência, porque os artistas, no fundo, não querem trabalhar. Na educação, na saúde, na justiça e no desporto, assume-se, de forma apaixonada, a importância do Estado investir em mais escolas e professores, mais hospitais, centros de saúde e médicos, mais tribunais e juízes, mais estádios e gimnodesportivos. Na cultura, fala-se de, a todo o custo, «evitar a estatização da cultura». Quer dizer, com a actual crise mundial, temos as maiores economias do planeta a nacionalizar grandes bancos e seguradoras, a colocar o mito do mercado livre como sistema mais-que-perfeito em causa, algo impensável há alguns anos atrás. Em Cabo Verde, temos um Auditório Nacional com uma gestão privada! Não faz qualquer sentido.<br /><br />Jorge Tolentino, ex-Ministro da Cultura, embora enaltecendo o trabalho feito pelos seus pares, não hesita no entanto em afirmar no seu blogue que «tarda um decidido e substancial investimento público nesta área aqui assim em apreço, parece-me. E, não tenhamos ilusões: há certo tipo de realizações que tem de ser o Estado a empurrar. Mormente nestes tempos em que o privado puro e duro está, um pouco por esse mundo fora, acantonado a tremer de sustos mil. Ou seja, para que a Cultura venha a carburar em termos “industriais” é preciso que a mão do Estado entre, sem receios, sem mais adiamentos. Como investidor, se se quiser. Ainda que promovendo parcerias diversas. Mas é preciso não alijar para outros o que tem de ser feito pelo próprio Estado. Basta pensar na rede de instituições culturais... públicas. Ou no quanto é ainda minguado o nosso parque de unidades culturais.» Acho estas palavras são de uma sensatez que merece ser realçada, não só porque estamos a falar de um homem que foi titular da pasta da Cultura, como também porque é da mesma cor política do actual Governo.<br /><br />À pergunta «e a Cultura, senhor Primeiro-Ministro?», confesso, e para encerrar este assunto (pelo menos para já), que gostaria de ter ouvido do maior «acreditador» militante de Cabo Verde – aquele mesmo Primeiro-Ministro que acredita, que sonha, que quer mais, que vê obra onde outros só vêm deserto – e dito com o seu entusiasmo tão característico como cativante, qualquer coisa como isto:<br /><br />«Na Cultura há muito por fazer. Temos que investir na educação artística, e estamos a fazê-lo; temos que investir na estruturação de locais para a cultura e aqui há ainda um longo caminho a percorrer, em todas as ilhas do arquipélago. Um país como Cabo Verde tem que ter um Teatro Nacional ou uma Companhia Nacional de Dança, por exemplo. Temos que dar incentivos aos que queiram arriscar no negócio da exibição de filmes. Eu não posso chegar lá fora e dizer que não há um único cinema no meu país! No campo da edição, avançamos muito, mas temos que procurar entender porque se lê tão pouco e desenvolver programas efectivos de incentivo à leitura. Temos que incentivar um real desenvolvimento das artes plásticas contemporâneas. E o meu sonho maior, como Primeiro-Ministro de um país como o nosso, que vive e respira a música por todos os poros, é poder ver tocar, num grande Auditório Nacional, bem gerido e equipado, uma Orquestra Nacional a tocar versões sinfónicas dos nossos melhores compositores. Nesse momento poderia dizer, a mim e aos outros, que parte substancial da minha missão estaria cumprida.»<br /><br />Não me parece mal, numa área onde o Estado deve assumir também as suas responsabilidades, ser tão ambicioso como se é, e bem, em todas as outras áreas de governação. Não faz sentido que sempre que chegamos à vertente cultural haja uma espécie de trauma, preconceito ou medo, de se estar a alimentar uma «rede de parasitas que não tem mais nada que fazer e vivem à custa do erário público», menosprezando a importância dos criadores na saúde mental da nossa Nação.<br /><br />E uma nota final: naquela pequena intervenção inventada, repete-se o termo «Nacional» 4 vezes. Está muito bem. Como dizia uma publicidade de uma marca de massas alimentícias, afinal, o que é Nacional é bom!<br /><br /></div><div align="justify"><span style="font-size:85%;">Conversas de Café de 22 de Outubro de 2008</span> </div><div align="justify"><br /> </div>Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/10488925930318274685noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2540336488850235812.post-83026999143635187742008-09-29T18:55:00.001-01:002008-10-23T22:14:20.001-01:00Coffe Graphic<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEimA_5lFZwme9VFEBV7uRh50EYRSZJve7AXSObp4rNkXnSp9wBcKxkJuvWZCIvVwV5SUCw-gloyfIbWGjeVJEcVTe26UeqshoF3cWqxDEHN__zI58LSJGVfsylOKYOyhY7TkjoI29J1cKI/s1600-h/coffee-graphicmini.png"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5251536280454707730" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEimA_5lFZwme9VFEBV7uRh50EYRSZJve7AXSObp4rNkXnSp9wBcKxkJuvWZCIvVwV5SUCw-gloyfIbWGjeVJEcVTe26UeqshoF3cWqxDEHN__zI58LSJGVfsylOKYOyhY7TkjoI29J1cKI/s400/coffee-graphicmini.png" border="0" /></a>Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/10488925930318274685noreply@blogger.com0